Agricultura Urbana será estratégica no combate à fome

É difícil – se não impossível – pensar em uma consequência negativa do fomento à produção de alimentos nas cidades. As consequências positivas, por outro lado, são numerosas e, por isso, o tema deve ganhar amplo espaço na agenda governamental. Foi o que viram os participantes do seminário Como a Agricultura Urbana pode contribuir para a promoção de ambientes alimentares saudáveis e sustentáveis?, promovido pela Cátedra Josué de Castro em parceria com o Instituto Escolhas, no dia 30 de março.

O evento foi aberto pelo Professor Titular da Cátedra Josué de Castro e Professor Sênior do Procam/IEE/USP, Ricardo Abramovay, e contou com as participações de Milton Fornazieri, Secretário de Abastecimento, Cooperativismo e Soberania Alimentar do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), e Patrícia Gentil, Diretora de Promoção da Alimentação Adequada e Saudável do Ministério do Desenvolvimento Social, Família e Combate à Fome (MDS). A mediação coube a Ana Paula Bortoletto, pesquisadora do Nupens/USP e da Cátedra Josué de Castro.

Para orientar o debate, Jaqueline Ferreira, gerente de portfólio do Instituto Escolhas, apresentou dados sobre os potenciais e desafios da Agricultura Urbana na Região Metropolitana de São Paulo e na cidade de Belém (Pará). “O tipo de trabalho que o Instituto Escolhas vem fazendo é pioneiro no Brasil, no sentido de mostrar o vínculo entre o potencial de ocupação de áreas urbanas com atividades produtivas que geram renda, que reorganizam os territórios, que combatem os desertos alimentares e oferecem às populações elementos de nutrição dos quais a população brasileira – e, de certa forma, a população global – é carente, que são os alimentos frescos”, pontuou Abramovay no evento.

Na sequência, Mayra Barata, pesquisadora do NUPENS/USP e pesquisadora associada da Cátedra, trouxe dados complementares sobre o impacto da alimentação na saúde dos brasileiros.

Assunto interministerial

Milton Fornazieri afirmou que o MDA entende a Agricultura Urbana como uma nova fronteira no combate à fome e à má distribuição de alimentos no Brasil. “Dentro desses desafios, precisamos da união dos três entes: municípios, estados e governo federal, cabendo ao governo federal impulsionar essa construção e transformar a AU em fonte de geração de renda e oportunidades de trabalho”, pondera.

O secretário citou, ainda, o problema da “ditadura das commodities”, que levou o país a perder mais de um milhão de hectares destinados ao plantio de feijão e 3 milhões de hectares destinados ao cultivo de arroz, convertidos em lavouras de soja.

Patricia Gentil destacou a importância do trabalho do Escolhas para ações de incidência na política nacional voltada ao avanço da agenda da Agricultura Urbana. Para ela, a AU emerge, hoje, numa agenda muito mais fortalecida sob a perspectiva das estratégias de segurança alimentar e nutricional.

“A gente precisa ter esse olhar mais integrado. É o que temos discutido em nível nacional, frente aos novos desafios colocados, como o quadro epidemiológico, a crise ambiental, o fato de que 80% da população que está passando fome vive nas cidades e as consequências do processo de urbanização. Diante desse cenário, precisamos de agendas emergentes, conectadas, que deem conta do desafio”, afirmou.

Os representantes dos ministérios sinalizaram, ainda, que o potencial da AU deve ser destaque na Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, a ser retomada este ano.

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