Texto

Notícias


Por Instituto Escolhas

25 novembro 2019

4 min de leitura

Compartilhe: Compartilhe: Voltar

Estudo estimula debate sobre preço da água na irrigação da cana

Valorar o custo da água é cada vez mais um instrumento de política pública, afirma pesquisadora da Cátedra Escolhas de Economia e Meio Ambiente, Elis Licks

O aumento da produtividade das lavouras de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo, em um cenário onde a terra é escassa, está ligado a disponibilidade hídrica para que a irrigação possa ocorrer, indica a pesquisa “Preço Sombra da água utilizada para irrigação da cana-de-açúcar na região de Araçatuba-SP, Brasil”, assinada por Elis Braga Licks, bolsista da Cátedra Economia e Meio Ambiente do Instituto Escolhas, e outros três pesquisadores.

Como a água é um bem finito, o que ficou claro com a crise hídrica que atingiu o Estado de São Paulo entre 2014 e 2015, a solução ambiental encontrada pelos pesquisadores na discussão sobre casos hipotéticos de irrigação em São Paulo foi valorar o custo desta água que será usada pelos produtores. 

“A cobrança pelo uso da água pode aumentar a produtividade e a eficiência, além de redistribuir os custos sociais e promover o desenvolvimento regional e ambiental”, afirma a pesquisadora. Por questões técnicas e jurídicas, os produtores de cana-de-açúcar do Estado de São Paulo pagam pela água que utilizam de uma forma diferente do que ocorre com outros setores industriais paulistas.

Na visão da autora do trabalho, doutoranda em economia aplicada na Escola Superior Luiz de Queiroz (Esalq/USP), fomentar o debate pelo uso do preço da água em diferentes atividades agrícolas e industriais é fundamental nos dias de hoje não apenas em São Paulo e no Brasil, mas em todo o mundo.

“Se a água for utilizada de uma forma eficiente, racional e sustentável todos os setores da economia, seja a indústria, a agricultura e o abastecimento público terão acesso ao recurso. Valorar a água está sendo cada vez mais visto como um instrumento de política pública”, afirma Licks.

De acordo com o estudo do grupo que a economista faz parte, apresentado em um congresso internacional sobre o tema realizado em Portugal, em outubro, com apoio do Escolhas, a política de valoração da água para produtos agrícolas é uma forma importante de se fazer um pacto com o meio ambiente. “A utilização da água está fortemente ligada a diversificação da atividade agrícola. Valorar o uso da água na agricultura, além de incentivar o uso eficiente, serve como ferramenta de proteção ambiental”, afirma a pesquisadora.

Com o aumento dos trabalhos sobre o tema, e a partir da experiência acumulada por ela nos debates realizados na cidade portuguesa de Oeiras durante o Congresso, Licks tem a expectativa de que a academia consiga chamar ainda mais a atenção dos governos. “É um recurso essencial para a sobrevivência de todas as espécies. Nosso objetivo, com este estudo, é iniciar este debate sobre a precificação da água”.

O que coincide com a visão do diretor executivo do Instituto Escolhas, Sérgio Leitão. “Acreditamos que o pensamento único não necessariamente gera uma boa reflexão para lidar com os desafios que temos hoje”. 

Nos casos hipotéticos modelados no trabalho sobre o preço da água na irrigação da cana, a partir de dados econômicos reais das safras de 2013/2014 e 2017/2018, o grupo de pesquisa chegou ao valor máximo de R$ 1,20 o metro cúbico, como o preço que poderia ser cobrado dos produtores pelo uso da água na irrigação. Valor considerado factível de ser pago pelos autores da pesquisa em termos econômicos, apesar de ele ser maior do que o praticado pelas agências reguladoras de recursos hídricos de São Paulo, que é de R$ 0,0127 o metro cúbico.

“Infelizmente, a única maneira para as pessoas darem uma segurada no uso de qualquer recurso que pareça abundante é precificando. Quando tem preço, o uso continua a existir, mas de uma forma mais racional e sustentável”.

A valoração da água, segundo Licks, é um dos itens mais discutidos em termos de políticas públicas atualmente, porque não existe valor para ela. “A água é considerado um bem público”.

Para chegar aos resultados apresentados em Portugal e já publicados, os pesquisadores usaram o chamado método do valor residual. Uma técnica dedutiva que calcula o valor da água usada no processo de produção após todos os outros custos relevantes serem contabilizados. “A partir da renda total obtida pelas usinas é deduzido todos os fatores de produção, como o capital, o trabalho e a terra, exceto a água. Como resultado tem-se o valor máximo que os produtores estarão dispostos a pagar pelo uso do recurso hídrico”.

Segundo a economista, os resultados foram bem aceitos no encontro internacional de outubro. “A experiência foi incrível. Como Portugal tem pouca área, eles estão muito interessados em aprender com o Brasil como aumentar a produtividade de suas plantações”.

Sobre a Cátedra

A Cátedra Escolhas de Economia e Meio Ambiente conta com o patrocínio do Itaú. A iniciativa contempla o Programa de Bolsas Cátedra Escolhas, que oferece bolsas de mestrado e doutorado para estudantes de pós-graduação interessados em estudar Economia em sua interface com o Meio Ambiente. Além de Gabriela, nas três edições anteriores, 16 estudantes foram apoiados. Conheça os bolsistas e os trabalhos desenvolvidos por eles no canal do Instituto Escolhas do Youtube. 

É estudante de pós-graduação em Economia e tem interesse de estudar o tema em sua interface com o meio ambiente? As inscrições para o nosso Programa de Bolsas estão abertas! Veja mais informações do processo seletivo no link.

 

Leia entrevistas exclusivas e saiba mais sobre estudos e publicações do Escolhas em nosso boletim mensal

Assine o boletim do Escolhas

    Leia entrevistas exclusivas e saiba mais sobre estudos e publicações do Escolhas em nosso boletim mensal

    Assine o boletim do Escolhas