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Por Instituto Escolhas

21 julho 2017

4 min de leitura

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Brasil conquista presidência do Codex Alimentarius

Sérgio Leitão, do Escolhas, reforça importância do país incluir questões ambientais na discussão

Na última terça-feira (18/7), o Brasil conquistou, pela primeira vez, a presidência da Comissão do Codex Alimentarius – entidade vinculada à Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e à Organização Mundial de Saúde (OMS), que define padrões para proteger a saúde do consumidor e procura práticas legais no comércio agrícola, o qual movimenta US$ 1,7 trilhão por ano. Guilherme Costa, servidor do Ministério da Agricultura, foi eleito com 84 votos de um total de 149, em disputa com um representante do Mali, em votação que ocorreu em Genebra, na Suíça.

Para Sérgio Leitão, diretor de Relacionamento com a Sociedade do Instituto Escolhas, é importante que o país traga a questão do meio ambiente para a discussão da produção de alimentos. “O Brasil está tendo atuação diplomática, no sentido de ser incisivo nas instâncias que são relevantes para seus interesses comerciais, relacionados à questão agrícola. E o que a gente gostaria de ver é a preocupação do país em incorporar o tratamento das questões ambientais nas regras de proteção agrícola, ”, afirma Leitão.

Com a eleição de Costa, o Itamaraty destacou, em nota, que o Brasil passa a ocupar três dos mais importantes cargos de direção na arquitetura econômico-comercial global (OMC, FAO e Codex), com impactos relevantes para o comércio brasileiro de produtos agrícolas, segundo matéria publicada pelo Valor Econômico.

Entre os compromissos assumidos por Costa estão a liderança justa e transparente, a fim de conectar as diferentes realidades, unir os países membros e respeitar a diversidade, melhorando, assim, a capacidade de participação.

Os 188 países-membros negociam recomendações com fundamentos científicos, relacionados a inocuidade e qualidade dos alimentos, higiene dos alimentos, limite máximo para aditivos alimentares, resíduos e medicamentos veterinários, limites máximos e códigos para prevenção de contaminação química e microbiológica. Leitão reitera que a preocupação ambiental tem que estar presente para dar uma amostra para o consumidor. “O consumidor precisa saber que não está levando desmatamento, falta de água e sofrimento indígena junto com a compra de soja, por exemplo. É preciso ter um atestado de que a produção brasileira é a melhor em todos aspectos”, explica.

Água virtual e agronegócio

Um exemplo de informação que precisa começar a ser disponibilizada para o consumidor é sobre a água virtual, aquela que está embutida na produção de todos os produtos. No início de julho, a economista Jaquelini Gelain – bolsista da Cátedra Economia e Meio Ambiente, do Instituto Escolhas – apresentou estudo que foca na produção de soja na região de Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), a fim de estimar o volume e o valor da água virtual na região. A água virtual pode ser compreendida como a água incorporada em um produto durante o seu processo de produção – mais especificamente os alimentos são os que mais agregam quantidade de água ao longo de sua cadeia produtiva.

De acordo com o artigo da pesquisadora, em 2002, a área cultivada de Matopiba representava pouco mais de 1 milhão de hectares e, em 2015, este número passou para quase 4 milhões – gerando um aumento de 198,47% na área plantada. Quanto a produção da soja na região, em 2002, havia pouco mais de 2 milhões de toneladas e, em 2015, superou 10 milhões, representando um aumento de 355,22%. O estudo de Gelain é parte de sua pesquisa para a Cátedra, cujo tema é a Análise do Custo-Benefício da Exportação de Água Virtual no Setor Agropecuário Brasileiro.

Para Sylvia Coutinho, presidente do banco suíço UBS no Brasil, os ativos ambientais e o agronegócio estão entre as maiores vantagens competitivas do Brasil no mundo globalizado e devem ser pensados juntos. “No futuro, quando se entender mais sobre os serviços ambientais, vamos nos perguntar como permitíamos a destruição ambiental já que a produção depende disso. Hoje há uma nova geração que quer investimentos com impacto positivo. E um consumidor que se dispõe até a pagar mais por esses produtos. O mesmo vai acontecer com os produtos agrícolas”, afirma Coutinho em entrevista concedida ao Escolhas.

O agronegócio é o setor que mais cresceu no Brasil e é o único que aumentou em termos de produtividade. Para Coutinho, os mecanismos devem ser voltados para continuar aumentando a produtividade, além de resgatar áreas degradas e fazer plantio de florestas, como prevê a NDC brasileira, compromisso do país de redução de emissões na Convenção do Clima.

A presidente do banco suíço acredita, ainda, que o Brasil precisa ser verde para crescer e ganhar mercado. “O Brasil precisa criar uma marca e ser reconhecido como verde. Recebemos uma herança, mas precisamos decidir o que faremos com ela. Vamos gastar tudo ou aumentar e melhorar o que recebemos?”, provoca.

 

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