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Notícias
Por Instituto Escolhas
11 março 2016
5 min de leitura
Instituto busca subsidiar escolhas balizadas para o desenvolvimento sustentável do país
Quais são os reais impactos, positivos e negativos, dos projetos voltados ao desenvolvimento do país? Quais são as consequências das opções por um ou outro caminho na economia, no meio ambiente e para a sociedade? Foi esse questionamento que levou um grupo de pessoas das mais diversas áreas, entre os quais ambientalistas e economistas, a criarem, em 2015, o Instituto Escolhas, um think tank* voltado a realizar estudos que mostrem os custos dessas ações olhando para as três vertentes (social, econômica e ambiental), e dando subsídios para a tomada de decisão por um ou outro caminho.
“Entendemos que, por não termos essa informação, acabamos tendo oposição por oposição. Ou estou do lado da economia ou do meio ambiente. Na verdade, ambos estão errados, mas precisamos ter dados para colocar na mesa e possibilitar entendimentos para solucionar os problemas”, explica o advogado Sérgio Leitão, diretor de Relacionamento com a Sociedade e um dos fundadores do Escolhas. Com a experiência de quem esteve sempre ligado a um desses lados opostos, Leitão vivenciou esse dilema na pele: foi um dos fundadores e diretor executivo do Instituto Socioambiental e diretor de Políticas Públicas e de Campanhas do Greenpeace no Brasil, onde trabalhou por 10 anos.
Com o tempo, passou a se perguntar o porquê dos ambientalistas tratarem de uma questão tão importante para o Brasil e os brasileiros, mas não conseguirem emplacar soluções para os problemas. Para ele, há um esgotamento de repertório. “A questão ambiental não está em crise, nunca se falou tanto do assunto. O que está superado é uma certa modalidade de discurso sobre meio ambiente estacionada na interdição, focada no que não se pode fazer”.
Nas infindáveis discussões durante a tramitação do Código Florestal, que duraram mais de uma década até a aprovação da nova lei, em 2012, começou a perceber que a sociedade tinha a noção da importância da questão ambiental, mas queria equilibrar dois valores: preservar a floresta e produzir comida. “Quem ficou nos dois extremos, perdeu”, acredita.
Conversando com várias pessoas, Leitão encontrou algumas que também viam sentido nessa leitura, apesar de não serem da mesma turma e não pensarem exatamente igual, e toparam o desafio de criar o Instituto Escolhas. Além de Sérgio, fazem parte do grupo a ambientalista Ana Toni, presidente mundial do Conselho do Greenpeace, o economista Ricardo Sennes, diretor da Prospectiva Consultoria Brasileira de Assuntos Internacionais, o economista Marcos Lisboa, diretor presidente do Insper, e o empresário Plínio Ribeiro, diretor executivo da Biofílica.
“A nova dinâmica para essa discussão é baseada em uma sigla que parece nome de cursinho e funciona como um caminho para passarmos no vestibular que levará o Brasil para a turma dos países que estão fazendo faculdade para criar uma economia que respeite os limites ambientais do planeta. É o CQQ, onde o C é o “como vamos fazer”, o Q é o “quando”, já que é necessário tempo para se adaptar a novas realidades e regras, e o “quanto”, que tem a ver com quanto isso vai custar. O Escolhas quer atuar na ponta do CQQ, ou seja, ajudar a sociedade a entender os custos das ações, para que elas possam se materializar”, explicou.
Os estudos do Escolhas são sempre baseados no tradeoff** e não partem de uma resposta pronta nem têm uma predição moral. O objetivo é que sejam baseados em dados e números, como define o slogan da organização: Informação acima de qualquer opinião. Em busca de excelência em seus estudos econômicos, o Instituto buscou parceria com quem entende do assunto, no caso, o Insper, uma das mais renomadas faculdades de economia do Brasil.
Primeiros trabalhos
O lançamento oficial do Instituto Escolhas aconteceu em novembro de 2015, quando foi apresentado o estudo Impactos Econômicos e Sociais da Tributação de Carbono no Brasil, que mostrou como a criação de um imposto sobre o carbono no país poderia ser neutralizada financeiramente pela alteração de outro imposto, no caso, a simplificação de um dos mais complexos impostos existentes no Brasil, conhecido como PIS-Cofins. Nas simulações do Escolhas, haveria um novo imposto, sem que a população pagasse mais impostos e com o governo arrecadando a mesma coisa. Essa solução induziria a redução de emissões no país e, no médio e longo prazo, traria um ganho de produtividade na economia.
Outro estudo, prestes a ser publicado, avaliou os impactos de novas energias renováveis (eólica, solar, biomassa etc.) na matricial elétrica brasileira. “Esse estudo surgiu como um piloto para criar a tecnologia dos nossos estudos. Mostrou que boa parte dos cenários feitos no Brasil sobre a grade de fornecimento de energia não mede os impactos das opções com o rigor necessário para a melhor escolha por uma determinada fonte de energia. Com isso, o país pode estar deixando de aproveitar oportunidades”, defende o fundador do Instituto.
Realizado a pedido da Coalizão Brasil Clima, Floresta e Agricultura, uma iniciativa que conta com mais de 120 organizações, o Escolhas calculou o investimento necessário para o Brasil cumprir a promessa, que está nas metas apresentadas pelo país na COP-21, de Paris, de recuperar 12 milhões de hectares de florestas, um desafio gigante, equivalente ao território da Inglaterra, que nunca foi feito antes em todo o mundo. O trabalho conclui que o país vai precisar investir R$ 52 bilhões, criando uma indústria florestal de recuperação, com cerca de 200 mil empregos, que pode gerar uma arrecadação de R$ 6 bilhões em impostos. Com isso, o agronegócio brasileiro resolveria o seu passivo ambiental em reservas legais. “No médio e longo prazo, os resultados serão maiores. Para tanto, o país precisa dar às florestas tropicais a mesma oportunidade que deu, a partir dos anos 1960, às florestas exóticas de pinus e eucalipto”, diz Leitão.
Com um aporte de R$ 1 milhão, do Instituto Clima e Sociedade e do Instituto Arapyaú, a próxima missão do Escolhas é mostrar quais os impactos positivos e negativos do Brasil zerar as emissões de gases de efeito estufa do setor energético, o que é básico para descarbonizarmos nossa economia. Segundo Sérgio Leitão, “precisamos saber o quanto o país vai gastar e quais setores serão afetados e como. Teremos mais ou menos empregos e crescimento econômico? Ou se discute o assunto ou não vamos resolver nada”.
*Think tanks são organizações surgidas no Século XXI que atuam no campo dos grupos de interesse, produzindo e difundindo conhecimento sobre assuntos estratégicos, com vistas a influenciar transformações sociais, políticas, econômicas ou científicas sobretudo em assuntos sobre os quais pessoas comuns não encontram facilmente base para análises de forma objetiva
**Tradeoff é uma expressão que define uma situação em que há conflito de escolha. Ele se caracteriza em uma ação econômica que visa à resolução de um problema, mas acarreta outro, obrigando uma escolha. Ocorre quando se abre mão de algum bem ou serviço distinto para se obter outro bem ou serviço.
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