Este site utiliza cookies para colher informações analíticas sobre sua navegação. As informações dos cookies ficam salvas em seu navegador e realizam funções como reconhecer quando você retorna ao nosso website e ajudar nosso time a entender quais seções de nosso website são mais interessantes e úteis.
Notícias
Por Instituto Escolhas
14 novembro 2017
7 min de leitura
Especialistas discutem emissões zero no setor elétrico brasileiro
No momento em que a COP-23, que acontece em Bonn, Alemanha, discute como o planeta pode brecar o aquecimento global em 2ºC, o Instituto Escolhas conversou com Luiz Barroso, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Energética (EPE), Roberto Kishinami, coordenador do Portfólio de Energia Elétrica do Instituto Clima e Sociedade (iCS) e Delcio Rodrigues, diretor executivo do ClimaInfo, sobre como o país deve lidar com suas emissões no setor elétrico. Todos eles concordam que o investimento em eletricidade limpa, com grande participação de energia eólica, solar e biomassa, é oportunidade de desenvolvimento para o país.
Estudos sobre os caminhos para o desenvolvimento do setor elétrico, principalmente aqueles quantitativos e com análises numéricas de custos e benefícios, são sempre bem-vindos para ajudar no aprofundamento da discussão sobre um setor tão importante para a economia, o meio ambiente e o desenvolvimento do país. Essa é a avaliação Barroso e Emilio Matsumura, assessor técnico da EPE, sobre o estudo Qual o impacto de zerar as emissões do setor elétrico no Brasil?, lançado recentemente pelo Escolhas, com o objetivo de chamar a atenção e promover discussões acerca da matriz energética brasileira.
Em 2015, em Paris, o Brasil assumiu o compromisso de reduzir, em 2025, suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 37% abaixo dos níveis de 2005, com uma contribuição indicativa subsequente de reduzir, em 2030, as emissões de GEE em 43% abaixo dos níveis de 2005. Kishinami, o Brasil ainda tem emissões significativas de desmatamento, que deveriam ser reduzidas para dar espaço às emissões que viriam das áreas industrial, agricultura e energia. “As emissões do setor de energia são as que mais crescem no país, com uma taxa de crescimento que nos coloca em um quadro bastante difícil, porque, se mantivermos a mesma taxa, não conseguiremos contribuir para a temperatura global ficar abaixo dos 2º C, conforme a meta assumida pelo Brasil em sua NDC [Contribuição Nacionalmente Determinada, na sigla em inglês]”, afirma.
Em consenso, Rodrigues afirma que zerar as emissões do setor elétrico é fundamental para mantermos o aquecimento sob a meta do Acordo de Paris. “Mas a meta é importante também para a economia brasileira, já que para suplantarmos esse desafio teremos de pesquisar, investir, criarmos políticas públicas adequadas, precificar o carbono e incorporar na contabilidade as externalidades das diversas fontes de energia, de modo a termos a real noção dos custos da geração de eletricidade”, disse.
Ainda dentro do setor de energia, segundo Kishinami, a maior parte do crescimento das emissões vem do setor elétrico. “O que se pode apontar é que essas emissões, mesmo com o crescimento observado nos últimos três anos, ainda são relativamente baixas quando comparadas com as emissões de outros países. Mas é importante lembrar que a redução das emissões do restante do setor energético depende fortemente de como será o aumento do consumo da eletricidade. E é óbvio que a eletricidade tem que ser sem emissão, caso contrário não adiantaria nada, estaríamos simplesmente deslocando as emissões dos combustíveis fósseis, por exemplo”, explica Kishinami.
Para Barroso, no entanto, mais importante que zerar as emissões apenas do setor elétrico, é pensar em estratégias de redução estrutural das emissões de GEE na economia brasileira. “As emissões de GEE associadas à produção e ao uso da energia elétrica representam uma fração pequena das emissões totais do país e assim continuarão, mesmo que cresçam em valor absoluto. Ou seja, por mais que tenhamos um dever de casa no setor elétrico, na busca por uma matriz de baixo carbono, medidas mais custo-efetivas devem ser mais numerosas em outros setores como no uso da terra, transportes e industrial”, afirma
Quanto aos danos que o Brasil pode sofrer ao não reduzir suas emissões, os entrevistados são unânimes: ser excluído de setores dinâmicos da economia mundial, perder competitividade e sofrer com novos tipos de barreiras comerciais que podem surgir quando as economias mais importantes tiverem grande parte da produção descarbonizada. Segundo Barroso, “qualquer país que não cumpra sua NDC estará impondo um esforço adicional dos demais países e será cobrado por isso”, disse. “Além disso, acredito que há muitos ganhos em manter a matriz energética brasileira limpa em termos de custos menores, desenvolvimento regional, incorporação de avanços tecnológicos, entre outros”, completa.
Desafios para a redução
Quando se trata dos desafios que o Brasil enfrentará para reduzir as emissões do setor elétrico, Barroso afirma que o futuro do setor no país é a adoção de uma matriz com fontes renováveis de energia e baixa emissão de carbono. “Portfólios com fontes de energia renováveis formam a espinha dorsal para atingir esse objetivo, enaltecendo principalmente a complementaridade das hidrelétricas com outras fontes renováveis de energia”.
Para ele, o primeiro desafio é compor uma matriz energética que absorva da melhor forma possível – em termos técnicos e econômicos – a variabilidade de produção dessas renováveis, sobretudo eólica e solar. “Nesse caso, as usinas despacháveis – hidrelétricas e termelétricas – possuem papel fundamental na acomodação dessa variabilidade e na provisão de reservas para a operação. Em particular, as hidrelétricas com reservatório facilitam de forma economicamente eficiente a acomodação de geração variável e são essenciais para permitir um maior limite de penetração dessas fontes”, explica. Já o segundo desafio é justamente fazer uma análise de custos e benefícios das renováveis na expansão.
Kishinami explica que hoje no país a instalação de equipamentos no setor elétrico está desconectada de políticas industriais mais amplas. Segundo o coordenador do iCS, para maximizar os benefícios das emissões é preciso olhar para os benefícios que podemos ter na economia como um todo. Como é o caso da biomassa – além da eólica e solar. “No Brasil, existe sinergia na geração com biomassa, com a recuperação de áreas degradadas e a implantação de atividades econômicas capazes de sustentar o desenvolvimento regional por um longo período, trazendo benefícios para toda a população. No entanto, é necessário integrar a política energética à industrial e à política de desenvolvimento regional, coisa que não temos feito nas últimas décadas”, afirma.
Nesse sentido, ainda de acordo com Kishinami, o estudo desenvolvido pelo Escolhas é importante justamente por usar ferramentas na área de análise econômica, uso de matriz e equilíbrio geral. “O estudo mostra claramente as vantagens na área social e elas superam os custos que você teria com essa escolha. Fica claro que, junto com variações razoavelmente pequenas, ao optar por zerar as emissões do setor elétrico, o que significa abrir mão de toda a área de combustíveis fósseis, elas são amplamente superadas pelo fato de ter vantagens em geração de emprego, renda e outros indicadores”.
De acordo com o estudo, o custo da transição para uma eletricidade carbono zero sobre o PIB seria pouco significativo, menos de 0,2% em 2050. O mesmo acontece para a renda das famílias, com um impacto menor do que 0,5% em 2050. Por outro lado, a redução nas emissões de gases de efeito estufa do setor elétrico foi significativa: se as emissões do setor elétrico forem zeradas em 2050, haverá redução de 58,5 Mt CO2e, no cenário otimista para a economia, um valor maior do que as emissões da queima de gasolina em toda a frota nacional de veículos em 2010. Se considerado um cenário pessimista, a redução seria de 40,1 Mt CO2e, valor maior do que as emissões CO2e de resíduos de todo o Brasil em 2010.
Segundo Rodrigues, para zerar a emissão do setor, é necessário criar novos setores econômicos ainda inexistentes ou incipientes na economia brasileira, principalmente nas cadeias de valor das indústrias solar, eólica e da biomassa moderna, o que abrirá oportunidades para um amplo conjunto de investimentos e criação de empregos. “Além dessas cadeias, a complexidade da operação de um novo sistema elétrico que venha a ter uma grande participação de fontes intermitentes também apresenta desafios e oportunidades para sistemas inteligentes. Ou seja, esse é um ótimo caminho para a modernização da economia do país”, explica. Ele afirma, ainda, que o estudo do Instituto Escolhas é muito importante, pois “estamos atrasados nessa discussão e precisamos apontar caminhos para o debate”.
Além do estudo, o Escolhas desenvolveu a plataforma #Quantoé Gerar Energia em que os usuários podem simular, de forma fácil e lúdica, como o país pode investir para zerar as emissões da produção de eletricidade, escolhendo em quais fontes de energia o Brasil deve investir para atender sua demanda adicional de eletricidade até 2025. Para Kishinami, a principal função da plataforma é educacional. “O fato de você oferecer uma ferramenta para que qualquer pessoa possa perceber as relações entre escolhas de rotas de eletricidade e indicadores socioeconômicos, mesmo que não seja expert em energia, traz à consciência das pessoas o que está em jogo”, afirma.
Notícias relacionadas
Juliana Brandão é a nova mestra em Economia da Cátedra Escolhas!
Inscrições para a Cátedra Escolhas de Economia e Meio Ambiente estão abertas
Restauração florestal na Caatinga pode gerar R$ 29,7 bilhões e ajudar a remover 702 milhões de toneladas de carbono da atmosfera
Fernando Queiroz conquista título de Mestre com pesquisa sobre a bioeconomia do açaí em Abaetetuba