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Por Instituto Escolhas

04 julho 2025

3 min de leitura

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Ouro em alta

 

Por Larissa Rodrigues, diretora de pesquisa do Instituto Escolhas

Entre janeiro e maio de 2025, o estado do Pará exportou 2.621 quilos de ouro. No mesmo período de 2024, o total exportado pelo estado havia sido de apenas 165 quilos.

Um dos fatores por trás desse salto é a alta histórica no preço do ouro no mercado internacional. Em 2023, o preço médio do grama foi de R$ 312. Em 2024, subiu para R$ 416, e em 2025 a média já alcança R$ 561. Esse patamar tem impulsionado fortemente a extração do metal. Não por acaso, as mineradoras que operam no Pará aumentaram significativamente sua produção. Uma delas, a maior do estado, já comercializou nos primeiros meses de 2025 quase o triplo do valor registrado em 2024 inteiro.

Apenas nos primeiros meses de 2025, o estado do Pará já coletou R$ 1,2 bilhão em CFEM (Compensação Financeira pela Exploração Mineral) – sendo R$ 27 milhões apenas do ouro. 60% desse valor vai diretamente para os municípios produtores. É um volume de recursos suficiente para promover transformações significativas em áreas essenciais, como saúde e educação. Mas, na prática, isso não acontece.

Infelizmente, o que se vê é a repetição de um padrão já conhecido na região: apesar de bilhões arrecadados anualmente com a mineração, os benefícios reais para a população seguem distantes. A infraestrutura continua precária, os índices sociais baixos e os conflitos em torno da atividade persistem. Essa desconexão entre arrecadação e bem-estar social é, a meu ver, um dos principais desafios do setor mineral: como garantir que os recursos pagos pelas empresas ao poder público sejam, de fato, revertidos em qualidade de vida?

Há ainda questões estruturais de sustentabilidade que precisam ser enfrentadas com urgência: 1) o combate à ilegalidade; 2) a recuperação ambiental das áreas; e 3) a descontinuidade do uso do mercúrio, ainda amplamente empregado na extração do ouro, e tema que o Projeto de Lei 2417/2024 trouxe para discussão na Câmara dos Deputados.

Nos últimos anos, avançamos na governança do setor de ouro e no enfrentamento à ilegalidade, com medidas como a nota fiscal eletrônica e o fim da presunção de boa-fé no comércio do metal. Mas ainda faltam passos decisivos. Um deles é a criação de um sistema público e obrigatório de rastreabilidade de origem do ouro – fundamental para fechar todas as portas para o ouro ilegal, que cria uma concorrência desleal para quem atua dentro da legalidade.

Também é preciso discutir a transformação do setor garimpeiro. Criar caminhos para que as operações legais e que cumprem os requisitos socioambientais possam se qualificar, acessar novos mercados e migrar gradualmente para um modelo mais estruturado. Isso não se faz da noite para o dia, mas é um debate que precisa começar agora.

O momento de alta no preço do ouro é importante para debatermos como vamos garantir que a riqueza mineral do país gere benefícios reais para a sociedade – e não apenas números impressionantes nas estatísticas.

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