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Por Instituto Escolhas

01 julho 2025

3 min de leitura

Brasil usa agrotóxicos de forma ineficiente e insustentável na produção de soja, revela estudo

 

A assinatura do decreto que cria o Programa Nacional de Redução do Uso de Agrotóxicos (Pronara) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em cerimônia realizada na manhã desta segunda-feira (30), deve contribuir para que os produtores brasileiros comecem a enfrentar um de seus principais desafios, reduzir o uso crescente de pesticidas na produção de grãos.

No caso da soja, a principal commodity agrícola do país, o modelo de produção atual se revela cada vez mais ineficiente e insustentável, tanto econômica quanto ambientalmente. Em 1993, os produtores brasileiros usavam 1 kg de agrotóxico para produzir 23 sacas de soja. Em 2023, a mesma quantidade do insumo foi suficiente para produzir apenas sete sacas.

Os dados integram o estudo “Brasil como líder mundial em produção de soja: até quando e a que custo?”, lançado no último dia 10 pelo Instituto Escolhas. O total de agrotóxicos usados na produção da soja passou de 16 mil toneladas (1993) para 349 mil toneladas (2023), um aumento de 2019%. Entre os cinco maiores produtores de soja do mundo, o Brasil é o que mais utiliza pesticidas por hectare.

O anúncio do Pronara pelo presidente Lula aconteceu na solenidade de anúncio do Plano Safra para a agricultura familiar na temporada 2025/2026. A soja representa 26% do valor financiado pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), segundo levantamento da Climate Policy Initiative/Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (CPI/PUC-Rio). É seguida, entre os produtos agrícolas, pelo milho (15%), café (6%) e trigo (6%).

Apesar de a cerimônia de lançamento do Pronara ter sido lançada junto ao Plano Safra da Agricultura Familiar, é importante destacar que a agricultura empresarial é a principal responsável pela produção de culturas altamente dependentes de insumos químicos, como a soja.

De acordo com o Censo Agropecuário de 2017, a maior parte dos estabelecimentos com soja do Brasil (27,96%) tem entre 20 e 50 hectares. Contudo, a capacidade produtiva desses estabelecimentos representa apenas 3,98% do volume total produzido. A maior parte da produção de soja (23,46%) é plantada e colhida por 1,46% dos estabelecimentos com soja, com área entre 2.500 e até 10.000 hectares, representando um pouco menos de 3.500 unidades.

Conforme revela o estudo do Instituto Escolhas, além da dependência de agrotóxicos, a cultura da soja precisa do uso crescente de uso de fertilizantes.  Em 1993, uma tonelada de fertilizantes produzia 517 sacas de soja, quantidade que caiu para 333 sacas em 2022. O uso crescente de agrotóxicos e fertilizantes resulta na redução da rentabilidade do produtor.

“O produtor usa cada vez mais agrotóxicos e fertilizantes para produzir cada vez menos soja. Isso afeta sua renda, que também é impactada pelo aumento de preço desses insumos”, afirma Jaqueline Ferreira, diretora de Pesquisa do Instituto Escolhas e coordenadora do estudo. Em 1993, bastavam 11 sacas de soja para o produtor pagar os custos com sementes, agrotóxicos e fertilizantes. Em 2023, ele precisou de 23 sacas de soja para dar conta dessas despesas.

O protagonismo global do Brasil, que deve bater o recorde de 168 milhões de toneladas de soja na safra 2024/2025, se explica mais pelo aumento do uso de insumos (agrotóxicos e fertilizantes) e da área plantada do que da produtividade. Entre 1993 e 2023, a área plantada de soja saltou de 11 milhões para 44 milhões de hectares, crescimento de 5% ao ano. A produtividade aumentou bem menos, 2% ao ano – era de 2.120 kg de soja por hectare e passou para 3.423.

Clique aqui para ler o estudo do Instituto Escolhas.

 

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