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Por Instituto Escolhas

29 agosto 2025

3 min de leitura

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A soja transgênica e o chimarrão no fim da tarde

 

Por Sergio Leitão, diretor executivo do Instituto Escolhas

 

Quando comecei a trabalhar no Greenpeace em junho de 2005, onde fui diretor de políticas públicas e de campanhas por dez anos, me deparei com uma campanha da organização contra a liberação do uso das sementes transgênicas. Naquele momento, o assunto era uma novidade e ensejava renhidos debates sobre os prós e contras da adoção da transgenia em nossa agricultura.

O Greenpeace alegava com base no princípio da precaução que se tratava de uma tecnologia que não havia sido testada o suficiente para saber os seus efeitos e que o uso dessas sementes colocaria em risco o meio ambiente e as pessoas. Os seus defensores negavam tais riscos e destacavam o benefício da redução de agrotóxicos para o controle de pragas.

Era um debate perdido, ainda mais depois da entrada em vigor da Lei 11.105, de março de 2005 (Lula era o presidente, Marina Silva a ministra do Meio Ambiente e Roberto Rodrigues o ministro da Agricultura), que liberava a produção e comercialização de transgênicos no país.

Na verdade, era muito difícil fazer as pessoas se preocuparem com o assunto falando em princípio da precaução e de riscos potenciais, quando nunca se ouviu falar de alguém que tenha passado mal após comer uma espiga de milho transgênica na frente do Maracanã em dia de jogo.

A causa não era sequer bem-vista pela mídia, que via a postura dos que criticavam os transgênicos como contrária à adoção de novas tecnologias.

Só caiu a ficha da razão do apoio que os transgênicos receberam quando um colega do Greenpeace me contou o que ouviu de um agricultor que plantava soja no Rio Grande do Sul: com os transgênicos estou combatendo as pragas com muito menos trabalho, bastando aplicar o agrotóxico uma vez. Com isso, dizia ele, volto para casa mais cedo, desligo o trator e vou tomar chimarrão com a esposa na varanda.

Mas os transgênicos, que vieram para ser a salvação da lavoura, não andam entregando o que prometeram. Um estudo do Instituto Escolhas, onde trabalho agora, acaba de mostrar que, entre 2001 e 2021, o uso de agrotóxicos no plantio de soja cresceu 660%, enquanto a produção desse grão aumentou apenas 256%.

Infelizmente, acabou sobrando para o produtor. Em 1993, com 1 kg de agrotóxico dava para produzir 23 sacas de soja. Em 2023, a mesma quantidade produziu apenas sete sacas (um consumo três vezes maior). Como o produtor não é de rasgar dinheiro, ele usa mais agrotóxicos porque houve um aumento das pragas, das doenças e das plantas daninhas.

Há 20 anos tinha ficado feliz ao saber que o agricultor gaúcho estava com mais tempo para ficar ao lado da esposa na varanda de casa, desfrutando do seu chimarrão. Hoje, volto a me lembrar dele e fico preocupado se todo o seu tempo não está sendo gasto para pagar a conta dos agrotóxicos.

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