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Por Instituto Escolhas

10 agosto 2017

4 min de leitura

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Escolhas discute desmatamento zero com setor financeiro

Instituto apresenta dados preliminares de estudo no UBS e na Febraban, para qualificar resultados do trabalho

O Instituto Escolhas realizou, na última sexta-feira (4/8), uma nova rodada de apresentação dos dados preliminares do estudo Qual o impacto do desmatamento zero no Brasil?, idealizado e coordenado pelo instituto, que deverá ser lançado em 30 de outubro. Os encontros foram realizados na sede do banco UBS, para um grupo voltado a discutir finanças sustentáveis, e na Federação Brasileira de Bancos (Febraban). O objetivo dessas reuniões prévias é receber sugestões e qualificar os dados que estão sendo produzidos, aumentando sua capacidade de interação com os setores diretamente responsáveis pela implantação de políticas que levem ao fim do desmatamento no país. O dados já haviam sido debatidos com o Grupo Desmatamento Zero (DZ), formado por algumas das principais ONGs que atuam na área de florestas no Brasil.

Segundo Sergio Leitão, diretor de relacionamento com a sociedade do Escolhas, o estudo pretende trazer dados que dialoguem com a dicotomia entre haver um aparente consenso de que o país não precisa mais desmatar, e mesmo assim o desmatamento continuar acontecendo. “Queremos mostrar os reais impactos econômicos, sociais e ambientais de se cessar o desmatamento no país para que a sociedade saiba, afinal, se o desenvolvimento da agropecuária depende disso”. O diretor do Escolhas, explicou que o estudo se guia pelo uso de dados abalizados do Sistema de Contas Nacionais, para garantir que os seus resultados espelhem os reais reflexos sobre a economia do país, “o que implicou em usar hipóteses mais conservadoras, evitando que eles possam ser interpretados como utópicos ou irrealistas”.

Gerd Sparovek, professor do Departamento de Ciência do Solo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e responsável pela parte biofísica do estudo, dá algumas pistas do resultado: “Não encontramos restrição de oferta de terra, mesmo em cenário de alto crescimento no país, embora o desmatamento sempre se restabeleça rapidamente”. Isso significa que, como há terras disponíveis (principalmente pastos improdutivos que podem ser ocupados pela agricultura), a tendência de continuidade do desmatamento é uma questão fundiária.

Luís Fernando Guedes, gerente de Certificação Agrícola do Imaflora, organização responsável pelos dados ambientais e fundiários do estudo, disse que os cenários escolhidos vão desde o mais extremo – zerar todo o desmatamento hoje, ilegal e legal – até o cumprimento da NDC brasileira (contribuição nacionalmente determinada do país de redução de emissões), na qual o governo se comprometeu a zerar o desmatamento ilegal até 2030.

b14e8fdb-7b36-47e5-be01-2a03c7e69ca9Doutor em economia e especialista em política agrícola Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho, professor da Esalq, é o responsável pela parte econômica do trabalho. No encontro, ressaltou que o estudo mostrará os efeitos da redução do desmatamento (nos diversos cenários do estudo) no comportamento de empresas, governos e pessoas, e seu impacto no PIB do país. Os resultados poderão ser consultados por bioma, por estado e até por município.

Sylvia Coutinho, presidente do UBS, afirmou que foi um privilégio conhecer em primeira mão a pesquisa do Escolhas. “Estamos interessados e curiosos quanto à sua conclusão e acreditamos que o estudo será primordial para fechar equações econômicas sobre como vamos monetizar e trazer capital para financiar a NDC brasileira”, disse. Para Antonio Werneck, diretor executivo da The Nature Conservancy (TNC), “o estudo é extremamente eloquente e joga luz em um debate que hoje carece de transparência e dados”. Além das equipes do Escolhas e dos participantes do estudo, participaram da discussão no UBS, representantes de várias organizações, incluindo Hector Gomez Ang, gerente geral para o Brasil do IFC, braço do Banco Mundial de investimento no setor privado.

Riscos e oportunidades

Durante a reunião na Febraban, o diretor de Relações Institucionais da Federação, Mário Sérgio Fernandes de Vasconcelos, ressaltou a importância do estudo do Escolhas na construção de uma narrativa que possa incentivar políticas públicas viáveis do ponto de vista institucional. “A Febraban também trabalha em estudos que mostrem os impactos do desmatamento na economia e no crédito, e os resultados podem ser complementares”, ressaltou.

Segundo Vasconcelos, o setor está tentando entender e trazer para o cotidiano do sistema financeiro os riscos e as oportunidades dos serviços ambientais, e o desmatamento está entrando nessa nova agenda. “Temos dois focos: de um lado, como podemos financiar ou investir com o mínimo possível de riscos socioambientais, e, de outro, como chance de negócio, já que o agronegócio é muito representativo no Brasil e o papel dos bancos é muito importante, seja financiando, seja intermediando câmbio nas exportações. Nossos clientes serão convidados a cumprir a legislação ambiental e batem em nossa avaliação de risco. É também uma forma do setor financeiro se engajar e ajudar nessa transição”, disse.

Um dos estudos que estão sendo realizados pela Febraban, em parceria com o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (GVces), deverá resultar em propostas e diretrizes para a gestão de risco do desmatamento para os setores produtivo e financeiro.

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