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Por Instituto Escolhas

27 junho 2017

4 min de leitura

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Periferias precisam de políticas para combater desigualdades

Evento debateu desafios e possibilidades das regiões periféricas

Para falar sobre periferias é preciso pensar em pluralidade, considerar os diversos contextos de um espaço complexo, dando voz e compreendendo os locais de fala de forma singular. Essa foi a premissa que deu início ao primeiro painel do evento Periferias Urbanas: territórios de desafios e possibilidades no enfrentamento das desigualdades, realizado segunda-feira (26/6) pela Fundação Tide Setubal, em parceria com o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (GVces) e revista Página 22, em São Paulo.

Com a participação de Neca Setubal, presidente do Conselho da Fundação Tide Setubal, do jornalista Tony Marlon e do especialista convidado da Unicamp, Maurício Érnica, a primeira mesa do evento debateu as principais questões relacionadas às periferias, sobretudo quanto a importância dos indicadores. Para Setubal, existem muitos dados, mas poucos são georreferenciais. “É preciso ter indicadores em três frentes principais: georreferencial, transparência e tradução de dados para que faça sentido para todos”, afirmou. A partir dessa ideia, Marlon defendeu a importância da experiência e vivência nas periferias e falou sobre o papel do poder público. “O conhecimento técnico é muito importante, mas as pessoas não são números. Precisamos refletir se os processos e investimentos fazem sentido para quem está participando ou somente para quem os realiza”.

Dentro desse contexto, Setubal lembrou que o trabalho de escuta é fundamental e que o poder público não chega até a ponta para ouvir os moradores de regiões periféricas. “É aí que entra a necessidade de envolver diversos atores. O excesso de dados não é ruim, mas, em geral, são feitos pela média. Quando dizem que a educação na periferia não é tão diferente do centro das cidades, a informação está correta. No entanto, esse dado vem de uma comparação com o centro periférico. A desigualdade existe dentro da própria periferia e é maior à medida em que você vai ainda mais para as margens”, conta. A presidente da fundação afirma, ainda, que o território importa e que ele é diferente em cada localização. Para ela, é preciso pensar em políticas que atinjam os territórios de forma específica, considerando as questões de cada região.

Oportunidades diferentes

Além da especificidade de territórios, os convidados também debatam as oportunidades para os moradores das periferias. E para provocar o debate, Érnica trouxe dados sobre educação e desigualdade no Brasil. De acordo com o especialista, a escolarização se expandiu lentamente no país. “Na década de 1950, ainda tínhamos 50,5% da população com mais de 15 anos analfabeta. Atualmente, pouco mais de 10% da população de 25 a 64 anos têm diploma de ensino superior, o que é muito pouco quando comparado a outros países, alguns acima de 40%. É um bem simbólico muito raro e que também possui um valor econômico, tem consequências sobre a renda. No Brasil, a renda média de quem tem ensino superior é duas vezes e meia a renda de quem tem ensino médio. Isso é central para reproduzir nossa estrutura de classes sociais”, explica. Para Setubal, a chave é a criação de políticas específicas. “A gente fala em oferta igual para todos, mas as pessoas são diferentes. Nós precisamos de ofertas específicas, que articulem políticas educacionais com sociais. Estamos muito longe da garantia de direitos para todos”, afirma.

e660956d-7b0d-44bb-9b4a-5c669e09af35Ainda dentro do contexto de oportunidades, Marlon lembra que é necessário criar de dentro para fora, proporcionando mecanismos para que os recursos cheguem até as regiões periféricas, valorizando a criação e produção dos moradores, de forma que o custo dentro das periferias seja o mesmo das zonas centrais. “É necessário ter políticas de descentralização de oportunidades, permitir que os empregos e os avanços também cheguem às periferias. Hoje se ouve muito sobre todo mundo criar dentro da periferia, mas será que não criamos porque estamos excluídos, às margens? A periferia não pode ser só um espaço de experimentação para aqueles que estão fora”, disse.

Com o auditório lotado, os participantes puderam contribuir com o debate a partir da elaboração de perguntas aos convidados e receberam a edição da revista Página 22, que abordou o tema das periferias. Para conferir o exemplar online, clique aqui.

 

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