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Notícias da Cátedra


Por Instituto Escolhas

03 abril 2017

4 min de leitura

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Água virtual é tema de estudo selecionado pela Cátedra

Entre os quatro estudantes selecionados no primeiro edital do Programa de Bolsas da Cátedra Economia e Meio Ambiente, a paulista Jaquelini Gisele Gelain, 36, irá desenvolver uma pesquisa cujo tema é a “Análise do Custo-Benefício da Exportação de Água Virtual no Setor Agropecuário Brasileiro”. Segundo ela, a água virtual – aquela contida no processo de produção de qualquer produto – é um assunto relativamente novo no campo da economia, mas muito relevante para entender os impactos do uso da água no Brasil e no mundo.

Em 2014, Gelain se formou em Economia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e hoje está no segundo ano de mestrado em Ciências (Economia Aplicada) pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP). A bolsista sempre teve interesse pela economia ambiental que envolve os recursos naturais, especificamente a água. Desde sua graduação, Gelain trabalha com o conceito de exportação de água virtual.

“Pretendo fazer uma análise do custo-benefício que o Brasil tem com essa exportação, precificando a água que está sendo exportada. Quero abordar também a diferença do que se gasta para produzir água no Brasil e fora também”, explica. O trabalho de Gelain será focado apenas na agropecuária, setor que mais consome água no país. “Para outras cadeias, ainda não encontrei uma base de dados sólida de informação. Por isso, meu foco será a agropecuária”, conta.

Água que não se vê

O conceito de água virtual foi introduzido pelo cientista britânico John Anthony Allan, em 1993. Ele representa toda a água que se gasta para produzir qualquer produto ou serviço, desde a água que está visível no produto até aquela que foi utilizada no processo de produção, de maneira indireta.

Allan desenvolveu a fórmula que calcula a quantidade de água para a produção de produtos e alimentos, cujo impacto mudou as políticas do comércio mundial.  Segundo o cientista, aqueles países que sofrem com escassez de água podem “importá-la” por meio de alimentos e, dessa forma, não comprometem os seus recursos hídricos. A China, por exemplo, é a maior importadora da soja brasileira e, com isso, faz entrar naquele país bilhões de litros de água todos os anos, recurso que os próprios chineses não teriam disponíveis para cultivar a soja.

Segundo Gelain, para cada quilo de soja produzido no Brasil, são necessários 2,197 mil litros de água, conforme a média nacional. Para a agricultura, também são disponibilizados dados da média por estado.

Já no caso da pecuária, o cálculo é mais complexo. “O problema com a pecuária é o tipo de produção. Temos o sistema de pastagem [no qual o boi fica solto no pasto], o sistema industrial [boi em confinamento] e o sistema misto. O boi de pastagem consome, em média, 20 mil litros de água para um quilo. O de confinamento, 8 mil litros de água por quilo”. Gelain explica que a diferença na pegada hídrica de cada sistema está principalmente na conversão alimentar, no tipo e na origem de ração. “Toda a cadeia é contabilizada: não é só a água que o boi bebe, mas também a água que choveu e molhou a grama que o boi comeu”, ressaltou.

Um dos desafios enfrentados por Gelain em seu projeto é a dificuldade em encontrar dados que diferenciam, nos números de exportações, quantos bois são de pastagem e quantos vieram de confinamento. “Tenho dificuldades para encontrar esses dados também sobre o crescimento do confinamento no Brasil. Por enquanto, irei trabalhar com o valor misto, mas gostaria de ter a proporção de cada um para, assim, ter resultados que fiquem mais próximos da realidade”, finaliza.

Programa de Bolsas: conheça os membros da banca avaliadora

O primeiro Programa de Bolsas – parte integrante da Cátedra Economia e Meio Ambiente – realizado pelo Instituto Escolhas, recebeu diversos projetos de pesquisa, os quais foram encaminhados para uma banca avaliadora, responsável pela seleção dos candidatos à bolsa.  

A banca, que avaliou os projetos, definindo os bolsistas, foi composta por Lígia Vasconcellos, diretora Científica do Instituto Escolhas, Rudi Rocha, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro do Conselho Científico do Instituto Escolhas, Priscila Borin Claro, do Insper, Fernanda Estevan, da Universidade de São Paulo (USP), e Eduardo Souza-Rodrigues, da Universidade de Toronto. Foram selecionados quatro estudantes que desenvolverão projetos nas áreas de mobilidade urbana, combustíveis, produtividade agrícola e água virtual.

O programa, realizado em parceria com o Insper e patrocínio do Itaú, tem como finalidade incentivar a formação de profissionais que desenvolvam pensamento crítico e pesquisa de excelência sobre as questões socioambientais contemporâneas, a partir da abordagem das ciências econômicas.

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